quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Exercício da Enfermagem e o Paciente Terminal


São considerados pacientes terminais aqueles que sofrem de uma enfermidade incurável e com prognóstico fechado, assim como os que estão em processo irreversível de morte. A morte é uma certeza indeterminada, pessoal e intransferível que tem uma dimensão biológica, psicológica, filosófica, espiritual e religiosa, além da social e econômica. Em suma, a morte faz parte da vida.

Todos os conhecimentos técnicos científicos são destinados a preservar a vida e recuperar a saúde. A tecnologia atual opera verdadeiros milagres de recuperação de pacientes em estado crítico ou, até mesmo, em estado terminal. Mas, pacientes terminais sempre confrontarão a presença inoportuna do sofrimento, que a todos amedronta. O sofrimento infunde medo, reflete fragilidade, vulnerabilidade, mortalidade e limitação do ser humano.

O profissional que lida com este paciente também enfrenta o medo e o faz lembrar a própria morte, o que pode levá-lo a fazer “visitas mais rápidas” e não permitir uma conversação que possa favorecer perguntas embaraçosas, como “eu vou morrer?” ou afirmações do tipo “eu tenho medo de morrer, fique comigo!”.  A dificuldade sentida pelos profissionais é: O que dizer? Como dizer e quando dizer? Muitos não consideram que conversar com o paciente possa ser importante, limitando-se a administrar o tratamento prescrito, para minimizar a dor física. Mas, o paciente terminal morre só, desamparado, solitário. 

A responsabilidade dos profissionais de enfermagem é mitigar o sofrimento, aliviar a dor e fazer com que o paciente se sinta o melhor possível, ajudando-o a morrer em paz. É importante “tocar”, segurar a mão, transmitindo não medo, mas amor e confiança e, quem sabe, falando não mentiras, como “você vai sair dessa”, mas palavras de conforto e, principalmente, respeitando a sua religiosidade. 

Para os familiares, é difícil o processo de ajustamento frente à morte iminente de um ente querido, até chegar a aceitação. A atitude mais comum é de descrença, de negação, de choque, seguida de desespero, até mesmo com sentimento de culpa. O importante é mostrar-se disponível para esclarecer dúvidas e manter atitude de compreensão ante a angústia e, até mesmo, negação da realidade.

Um exemplo final citado por Pessini, sobre uma estudante de enfermagem, paciente terminal, dirigindo-se ao pessoal de enfermagem: “Vocês entram e saem do meu quarto, dão-me medicação, checam minha pressão. Será porque sou estudante de enfermagem? ou simplesmente um ser humano que percebe seu medo? E o medo de vocês aumenta o meu.” "Não fujam... Esperem.” “Tudo o que eu gostaria é de ter a certeza de que haverá alguém para segurar minha mão quando eu precisar. Estou com medo! A morte pode ser rotina para vocês, mas é novidade para mim. Vocês podem não me ver como única. Mas, eu nunca morri antes.” “Se ao menos pudéssemos ser honestos, aceitar nossos temores. Tocar-nos. Se vocês realmente se importassem, perderiam muito de seu profissionalismo se chorassem comigo? Como pessoa?”

“Então, talvez não fosse tão difícil morrer... num hospital... com amigos por perto.”


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
OGUISSO, T;  SCHMIDT, M.J. O exercício da enfermagem: uma abordagem ético-legal. 2.ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 297p.

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